Entrevista com Robson Gracie, pai de Ryan

Um herói que não obedecia às convenções sociais. É assim que Carlos Robson Gracie define seu filho, Ryan Gracie, encontrado morto no sábado retrasado em uma cela da 91ª DP, em São Paulo, após ter sido preso por roubo e medicado com um coquetel de seis medicamentos pelo psiquiatra Sabino Ferreira Neto. Em entrevista exclusiva ao JB, concedida logo após a missa de 7º dia de Ryan, na sexta, Robson responsabiliza o médico, ao qual faz duras acusações, pela morte, defende o filho da fama de brigão e mostra arrependimento pelo rigor excessivo com que tentava educar o filho.

O que determinou o falecimento do seu filho?

As drogas injetadas nele. Disso eu não tenho a menor dúvida. Um médico me deu uma explicação técnica de que aquele tipo de droga faz a língua crescer, dilatar. Se a pessoa não é assistida, a língua não te deixa respirar e você não reage. Nosso medo era justamente esse. Que o Ryan ficasse sem assistência em uma prisão comum, com síndrome do pânico e tendo tomado aquela quantidade de remédios. Para que contratamos aquela ‘fera’? Para que ele não deixasse o Ryan preso sem assistência. Você conhece as delegacias. Onde cabem 20, ficam 70. Queríamos que ele falasse para o delegado que o Ryan teria que ser levado para o hospital ou até para o manicômio judiciário. Mas, segundo a minha filha (Flávia Gracie), ele queria sair de lá abraçado com o Ryan, para que a imprensa visse que ele estava com uma celebridade. E ele dava injeção, dava isso, dava aquilo, até que ela perguntou: “Dr., não é muita coisa?”. Ele disse: “Você é médica? Então não se mete”. Ela insistiu: “Mas não é perigoso?”. E ele respondeu: “Até tomar aspirina é perigoso”. Palavras dele.

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Você se refere ao Dr. Sabino…

Pra chamar uma lacraia imoral daquela de doutor é duro. Doutor é quem faz o juramento de salvar as pessoas, ajudar o próximo. Aquilo eu não chamo de Doutor. Aquilo é um esgoto ambulante.

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Quando o Ryan chegou à delegacia foram feitos exames toxicológicos que detectaram o consumo de cocaína, crack e maconha. Mesmo assim, ele não foi levado para o hospital, como é praxe. O que acha disso?

O doutor chegou para a minha nora e disse que ela teria que dar dinheiro à polícia. Tanto para o delegado, tanto para o carcereiro e tanto para beltrano. Mentira. Não pediram nada. Pelo contrário. Foram até gentis, com exceção de um sem vergonha que havia tido um problema com o Ryan. Segundo minha filha, a polícia se comportou corretamente. O Ryan foi deixado lá porque o Dr. Sabino o deixou. Se ele tivesse dito que não era para o Ryan ficar lá, ele não teria ficado. O cara que é baleado no morro não vai para o hospital?

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O Dr. Sabino diz que a sugestão de pagar aos policiais foi dada por uma pessoa da sua família. O que houve de fato?

Quando surgiu o problema, a Flávia ficou com medo de que ele ficasse preso e resolveu chamar um médico para interna-lo. Quem sugeriu o pagamento foi ele. Nossa família não tinha motivo para isso. Tanto é que ele deu R$ 100 para o carcereiro e, agora, diz que era para comprar uma pizza caso o Ryan sentisse fome. Você já viu médico cobrar um paciente às 5h da manhã? Ele sabia que vinha pancada nele e já começou a se defender. Quer mostrar que o Ryan estava drogado. A coisa ficou tão ruim que uma promotora do MP foi ao IML assistir à autópsia. Meu ex-genro, Maurício Mattar, me ligou e disse que, se soubesse que havíamos chamado o Dr. Sabino, iria implorar para que o mandássemos embora. Disse que o doutor tentou interna-lo à força, que não o deixou ir embora. Quem tirou ele de lá foi a assessora de imprensa, junto com a mãe dele, para a qual o Maurício mandou um recado através de um paciente que teve alta. E o menino do Polegar, o Rafael Ilha? Precisa de outro depoimento? Ele diz que ficava satisfeito na clínica porque saía para comprar cocaína com o Doutor, levava para lá, ficava cheirando e queimando crack, e ninguém o prendia. O doutor já teve o CRM cassado.

Como foram a infância e adolescência do Ryan?

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O Ryan era uma pessoa que, agora eu vejo, estava um pouco à frente do tempo dele. Por uma questão de civilidade, temos que ser gentis, educados, ter bom comportamento, quando, às vezes, a vontade que dá é matar um médico desses – desculpe o termo – de porrada, de tomar medidas extremas. O Ryan tinha o pavio muito curto para essas coisas. Mas olha a quantidade de amigos que vieram à missa de 7º dia. Você precisava ver como estava a missa em São Paulo e a comoção no enterro, onde havia mais de duas mil pessoas. O pavio curto dele era esse. Você fez uma sacanagem comigo, ela tá feita. O que ele não tinha era esse comportamento socialmente aceito. Para ele, é ruim, é ruim; é bom, é bom. Ele era muito respeitado e querido, e odiado pelos safados e inimigos. Isso eu estou vendo agora porque, com a vida que a gente tem, não dá para se espreguiçar muito tempo. Ele não tinha temperamento difícil. Era a figura mais doce que eu já vi. Teve namoradas e essa última paixão, a Andréia, que é uma mulher fantástica. Ela diz que o Ryan é amor da vida dela. Esse cara é um monstro agressivo? Não. Acontecia muitas vezes de ele entrar em uma boate e, por saberem que ele era lutador, ficarem provocando depois de beber. Aí, era confusão na certa.

Como e quando vocês perceberam que ele tinha síndrome do pânico?

No sábado anterior à morte, ele esteve no Rio, no aniversário do filho, e teve esse troço. Eu estive lá e, quando fui procurá-lo, ele havia saído com o carro da mãe. Foi para um restaurante encontrar os amigos e disse: “Cuidem do meu filho que eles vieram me buscar”. E saiu correndo com o carro, bateu e foi embora para São Paulo. Eu não o vi mais.

Então, vocês perceberam na semana retrasada?

Não. Ele já tinha o problema antes. Nós o levamos para um psicólogo, mas ele era rebelde, não queria se tratar.

Por que ele não aceitava se tratar?

Quem sabe dos problemas psíquicos dele? Sei lá.

Como a síndrome vinha afetando o cotidiano dele?

Ele não estava no estado normal. Fazia uma força danada para se controlar. Nunca chegou a mim para se queixar. Ele era muito reservado comigo, porque sabia que eu cobrava dele. Hoje, vejo que não fiz bem. Ele sabia da nossa intolerância em relação a atitudes que fugissem do padrão de comportamento da nossa família.

Qual é o padrão?

A gente não tolera abuso, covardia, falta de generosidade e muito menos que a pessoa se drogue. Não tem justificativa e nem cabimento. Vou continuar pensando assim.

Você sabia que ele consumia drogas?

Não. Às vezes diziam: “Ele está muito maluco”. Mas nada especificamente sobre drogas.

Você afirma que o Ryan é um herói. Por que?

As pessoas da família têm esse comportamento em relação à luta. Já o Ryan era um lutador em todos os momentos, não apenas no ringue. Ele não podia ver uma covardia. Um amigo dele me disse a pouco ter conhecido o Ryan quando estava apanhando de uma gangue em um shopping. Contra todas as probabilidades de sucesso, ele se metia e ia se defender. Por isso que essa igreja estava cheia. Ele era solidário. Esse era o meu herói. Falávamos que para lutar ele teria que treinar porque o adversário era muito forte, mas com ele não tinha papo. Ele dizia: “Amanhã eu estou pronto”. E a gente sabia que não estava.



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